Review: Interestelar

Interestelar, novo longa de Christopher Nolan, é um filme complicado. Não por ter temas difíceis de acompanhar, mas por não saber ao certo se gostei ou não dele. Uma parte de mim achou tudo sensacional e realmente interessante, enquanto a outra conseguiu notar várias falhas que acabam com o ritmo da história. Interestelar é complicado porque essas duas partes não estão erradas.

A impressão que fica após a sua longa duração é a de que o Christopher Nolan quis fazer um filme inteligente (tendo sucesso até certo ponto), mas optou por não deixar o longa mais “redondo”, realizando um vai e vem desnecessário por causa de algumas escolhas na sua história.

Vamos começar falando de coisa boa

Interestelar é uma ficção científica competente na forma que, após o término do filme, eu não só achei toda a parte de ciência interessante como fiquei com vontade de saber mais sobre o assunto. Nesse quesito, o longa de Christopher Nolan é fantástico.

Seja por mostrar como seria um wormhole ou o mais próximo de um buraco negro (com direito à pesquisas do filme ajudarem cientistas de verdade a realizarem novas descobertas sobre o assunto), Interestelar é o tipo de filme que poderia muito bem fazer um molequinho (provavelmente americano) querer ser astronauta. Levando em consideração que muitas produções hoje em dia fazem crianças sonharem em ser super-heróis ou cafetões, diria que só por isso, o Nolan merecia um tapinha nas costas.

Interestelar 3

Outro elemento que também merece a apreciação de todos é a atuação do elenco de Interestelar. Apesar de todos estarem muito bem, é possível dizer que a Jessica Chastain, além de ótima atriz, mora no meu coração e o Matthew McConaughey é um dos melhores atores em atividade hoje em dia.

O filme basicamente circula em torno dele e, em momento algum, ele deixa a peteca cair. Até mesmo nos momentos em que Interestelar derrapa, o cara consegue segurar a atenção do espectador de maneira que você releva alguns problemas.

O problema em não acreditar nas próprias ideias

A história de Interestelar é relativamente simples. Em um futuro não muito distante, o mundo se viu vítima de uma praga (que nunca é explicada) e que acometeu plantações em todo o planeta. Isso gera uma falta de alimentos que faz com que a maioria da população se torne fazendeiros.

Como se isso não fosse suficiente, todos ainda vivem sob constante nuvens de poeira, que cobrem tudo do dia para a noite. Imagine aquela mesa que fica com um pouco de poeira após você limpar. Agora, pense em algo que gera montinhos de poeira em cima de TUDO. Não é legal.

Interestelar 2

Em meio a isso tudo, temos Cooper, personagem do Matthew McConaughey. Ele era um piloto que teve de abandonar tudo quando o seu trabalho na NASA não era necessário e foi virar um fazendeiro, ajudando na criação de seus dois filhos.

Por meio de vários acontecimentos que cairiam para o lado do spoiler, ele acaba envolvido em uma missão para salvar a humanidade ao encontrar um novo planeta para viver.

Não é uma história complicada e que em vários momentos, levanta algumas questões bem interessantes, como qual é o nosso lugar no mundo, nossa “missão de vida”, família e responsabilidades. O problema de Interestelar é que, mesmo levantando vários questionamentos filosóficos, ele não desenvolve quase nenhum deles.

Quando você pensa que alguma coisa será mais profunda, ela é deixada de lado para dar lugar à mais informações amontoadas. E esse é talvez um dos maiores problemas de Interestelar: o acumulo de informações.

Durante várias cenas, os personagens começam a vomitar palavras para fazer com que o espectador entenda o que está acontecendo na tela. Se em alguns momentos isso até se faz necessário, principalmente durante algumas explicações sobre relatividade e aspectos mais científicos, o Nolan parece estar dirigindo um programa de rádio em vez de um filme.

Em vez de maravilhar constantemente o espectador, ele prefere ficar explicando tudo em cenas longas e que tentam demais ser inteligentes, se perdendo um pouco no processo.

Quando a ciência dá lugar ao dramalhão

Esses problemas se tornam mais aparentes em algumas cenas em que o Nolan realmente consegue impressionar o espectador com imagens fantásticas. Seja mostrando a viagem espacial ou alguns outros elementos científicos, o filme se mostra incrível.

Só que, então, o diretor resolve ficar explicando tudo aquilo que você já está vendo, tornando algumas cenas arrastadas.

Te cortaria do filme, mas não do meu <3
Te cortaria do filme, mas não do meu <3

Isso poderia ser ignorado caso Interestelar de fato deixasse de lado a questão “Terra” e realmente abraçasse a história de um grupo de pessoas viajando pra além da casa do chapéu preto em busca de uma nova casa para a humanidade.

Por mais que exista uma necessidade em mostrar a vida de alguns personagens na Terra, Interestelar se perde FEIO quando resolve criar alguns draminhas completamente desnecessários e que quebram completamente o ritmo que o filme começava a tomar.

Quando Interestelar é totalmente voltado para a parte de ficção científica, mesmo com suas explicações “vou te ensinar como respirar”, ele é fenomenal. Realmente impressionante, principalmente se você estiver assistindo numa tela de IMAX.

Quando ele cai pro drama e quer apagar o estigma de que filmes do Nolan são “frios”, ele se perde e mostra que as quase 3 horas de duração realmente estão se arrastando.

O “culto de Nolan” vai continuar

Existe um público que acha que o Christopher Nolan é infalível. Que tudo com o toque dele é ouro e que ele é a salvação do cinema americano. Eu sei disso porque pensava assim. Só que, desde Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, eu deixei isso de lado.

Ainda acredito que vários filmes do cara são excelentes, como O Grande Truque, mas o estilo dele não combina com todos os gêneros do cinema. Em Interestelar, alguns aspectos disso ficam evidentes, fazendo com que você possa sair do cinema sem saber se gostou ou não do filme.

Nolan Matthew

Mesmo assim, existirão aqueles que acham isso tudo bobagem, que o Nolan é um gênio e que Interestelar merece um caminhão de prêmios. Novamente, eu já pensei muito desse jeito (até sobre outros filmes que nem mereciam tudo isso).

Tirando todo o “culto” em torno do diretor, Interestelar é um filme bom. Apenas bom. Visualmente, ele não tem o mesmo soco de ficções como 2001: Uma Odisseia no Espaço, filme com o qual vem sendo comparado por muita gente. Ele tem alguns elementos muito bons, como a fidelidade à questões científicas, mas, como FILME, ele é apenas bom.

Levando em consideração diversas produções que chegam aos cinemas todos os meses, “bom” já é algo a ser apreciado. Só não acredite no hype de que Interestelar será o filme que mudará o panorama do cinema e que o Nolan será o maior gênio de Hollywood.

Apenas bom.