Review — Guardiões da Galáxia André Luiz de Mello Pereira CinemaReviews 30 de julho de 2014 Guardiões da Galáxia, novo filme do Marvel Studios, é o maior risco que o estúdio já tomou até hoje. Sim, até mais que o primeiro Vingadores. Isso porque, pela primeira vez, um grupo que 90% do público geral desconhece toma o lugar de destaque, tendo uma trama quase que totalmente separada do Universo Marvel já estabelecido. Talvez por causa dessa sensação de que o filme é uma entidade que se mantém sozinha, Guardiões da Galáxia se mostra como um dos mais divertidos filmes produzidos pelo Marvel Studios até hoje. Peter Quill: o Han Solo que essa geração merece Sim, eu tô afirmando isso. Desde os primeiros momentos em que vemos Chris Pratt como Peter Quill, o Star Lord, é possível falar três coisas: esse cara não é um HERÓI, ele é bom no que faz e ele é o cara mais “legal” do filme. Em vários momentos, você percebe que ele é um cara que segue a vida na malandragem, trapaceando, “atirando primeiro”, passando o rodo em várias mulheres de outros planetas e vendo o que acontece depois. Mesmo assim, ele demonstra que é uma pessoa boa, apesar de torta em algumas cenas. Isso acaba fazendo com que o espectador se afeiçoe a ele logo no começo do filme por causa do trabalho que o Chris Pratt fez. Ele toma pra si a responsabilidade de ser o elemento “normal” dentro daquele universo, mas demonstra tanto carisma que você não pensaria que ele ficaria em segundo plano caso o seu Star Lord um dia encontre o Tony Stark do Robert Downey Jr. Guardiões da galáxia = Um bando de perdedores A trama de Guardiões da Galáxia é relativamente simples. Peter Quill rouba um artefato misterioso que estava perdido em um planeta em ruínas. Esse artefato é desejado por Ronan, o Acusador, um kree que deseja destruir o planeta que serve como sede para a Nova Corp, uma espécie de polícia intergaláctica. Em busca do artefato, surge Gamora, filha de Thanos e que tem como missão recuperar a peça. Groot e Rocket Racoon, que na versão brasileira é chamado de Rocket e Rocky, acabam por ir atrás do Quill devido a uma recompensa por sua cabeça. O Drax se junta depois ao grupo por querer vingança pela sua família assassinada por Thanos. Isso é tudo o que você precisa saber para começar a conhecer os personagens que formam os Guardiões da Galáxia. Uma coisa que ficou excelente no filme e que me faz acreditar que esse é realmente o primeiro filme de EQUIPE do Marvel Studios é o fato de que todos ali complementam as qualidades uns dos outros, como também são responsáveis por uma defesa contra uma ameaça muito maior do que a vista em Os Vingadores. Cada um dos personagens perdeu algo na sua vida e acaba encontrando nos outros integrantes do grupo algo que há muito não tinham: uma família. Isso faz com que as suas ações tenham muito mais peso do que simplesmente um bando de gente poderosa lutando contra o mesmo inimigo. Sim, o Rocket Racoon é sensacional, assim como o Groot, mas eu devo dizer que fiquei impressionado com o Drax. Há anos, eu assisto WWE, onde o Dave Bautista lutava (e ainda tá lutando, aquele “eu me demito” foi de mentira), e acreditava que ele seria o “cara forte que dá porrada pra cacete”. Só que o Drax de Guardiões da Galáxia é divertido, talvez uma das melhores coisas do filme. A Gamora é muito mais que a Zoe Saldana sendo gostosinha com cor de pele colorida ou um par romântico pro Peter Quill, algo que eu temia que fosse acontecer. Só que não, ela tem papel importante dentro da equipe e isso é bem legal. A magia de não esfregar na sua cara os elementos do Universo Marvel Uma das minhas grandes birras com os filmes da Marvel, desde Homem de Ferro 2, é a maneira como elementos de outros filmes do estúdio são apresentados e se enfiam nas histórias dos longas. Homem de Ferro 2 é um dos mais afetados por esse mal, dando a impressão de que tudo é um grande trailer para outro filme. Depois de Os Vingadores, a Marvel parece ter segurado um pouco essa onda (eu não considero muito o Capitão América: O Soldado Invernal porque ele estava intimamente ligado à S.H.I.E.L.D). Em Guardiões da Galáxia, a impressão que dá é que pela trama se passar NA CASA DO CHAPÉU da galáxia, deixaram o James Gunn fazer o que bem entendesse com a história, o que é ótimo. A sensação que o filme passa é a de um longa de aventura no espaço dos anos 80. Planetas bizarros, diferentes raças, uma mitologia interessante e visual impressionante. E quando é preciso mostrar algo que o liga a outros filmes, a escolha faz tanto sentido que tudo parece orgânico. O problema dos filmes da Marvel: o vilão Mais uma vez, o Marvel Studios sofre com o mesmo problema de seus filmes anteriores: o vilão. Tirando o Loki, que se transformou em algo impressionante, graças ao trabalho do Tom Hiddleston, todos os vilões dos filmes da Marvel não parecem tão fortes quando comparados com os heróis. Guardiões da Galáxia QUASE consegue mudar isso com o seu Ronan, o Acusador, mas o fato de ele ser um vilão “olha como sou mal, agora sou poderoso, vou destruir um planeta” acaba por tirar parte de sua graça. Só que existe um elemento no filme que me faz acreditar que talvez esse seja o plano (torto) da Marvel. E agora eu vou falar de um spoiler do filme, então se você quiser pular para o próximo tópico, sinta-se à vontade. Tá aí? Então, o Ronan trabalha pro Thanos, que aparece em toda a sua glória, já interpretado pelo Josh Brolin. Mais uma vez, o Thanos é tratado como um mal superior, maior do que tudo o que já foi visto nos filmes, capaz de destruir planetas e dizimar raças. Ele ainda não mostrou, mas tá ali. Em dado momento, as Jóias do Infinito são citadas e mostradas, sendo que duas já apareceram em outros filmes. Levando em consideração o que é mostrado, o fato de o Thanos colocar a Terra no seu radar no final dos Vingadores e existir a Manopla do Destino no primeiro filme do Thor, Guardiões da Galáxia serve para finalmente começar a moldar o vilão como O mal a ser batido no Universo Marvel. Se fizerem isso juntando Vingadores e Guardiões pra brigar contra ele, todo mundo pode chorar sangue de emoção. WE ARE GROOT! No final das duas horas de filme, foi possível dizer que Guardiões da Galáxia é o filme mais divertido da Marvel em um bom tempo. Talvez até mais que Os Vingadores, que só é realmente legal por ter todos aqueles heróis juntos pela primeira vez. Guardiões consegue ser engraçado, emocionante, apresentar personagens cativantes, ação, expandir o Universo Marvel como nenhum outro filme conseguiu, além de ser absurdamente legal. Se os filmes da terceira fase do Universo Marvel, com Homem-Formiga, Doutor Estranho e sei lá mais o que, forem tão bem sucedidos quanto ele, talvez aquela possibilidade de a Era de Ouro dos filmes do estúdio estar acabando talvez seja adiada um pouco. Fora que um filme que tem um dos seus melhores momentos ao som de Ain’t No Mountain High Enough não pode ser ruim. PS: Sim, existem cenas após os créditos. Uma é bem no começo deles e a outra é depois. Não, nenhuma das duas mostra algo do próximo filme da Marvel, PORÉM, as duas são ABSURDAMENTE LEGAIS.